O ex-presidente Jair Bolsonaro disse à Polícia Federal que mandou o seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, verificar e esclarecer o que poderia ser feito com as joias dadas pelas Arábia Saudita, retidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, segundo o relato de uma pessoa que acompanhou o depoimento. O ex-mandatário afirmou que a sua intenção era evitar um vexame diplomático de o presente dado por outra nação ser levado a leilão.
Em um depoimento de cerca de três horas na sede da PF em Brasília, Bolsonaro negou ter praticado qualquer irregularidade. O ex-presidente afirmou que só foi avisado sobre o presente luxuoso mais de um ano depois da viagem feita pela comitiva brasileira à Arábia Saudita, realizada em outubro de 2021. O ex-mandatário disse, porém, que não recorda quem o avisou sobre as jóias retidas pela Receita Federal.Enquanto Bolsonaro prestava depoimento em Brasília, o seu ex-ajudante de ordens era ouvido pela Polícia Federal em São Paulo. No fim do ano passado, Mauro Cid chegou a enviar um ofício ao secretário da Receita Federal, pedindo “autorização para retirada por um representante das jóias apreendidas”. “A viagem desse representante, segundo o portal da transparência, foi para ‘atender demandas do Senhor Presidente da República’ “, escreveu o delegado Adalto Ismael Machado ao conceder cópia do inquérito à defesa de Bolsonaro.
Veja o caso das jóias de Bolsonaro em imagens
Foi o delegado Machado quem conduziu o depoimento do ex-presidente nesta quarta-feira. As apurações estão sendo tocadas pela superintendência de São Paulo.
As investigações da PF foram instauradas após o jornal “O Estado de S. Paulo” revelar que uma comitiva do governo, liderada pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tentou trazer ao Brasil, um conjunto de jóias avaliadas em R$ 16,5 milhões, que não foram declaradas à Receita. Ele havia viajado à Arábia Saudita para representar Bolsonaro.
O material foi dado de presente por autoridades daquele país ao Estado Brasileiro e como não havia sido declarado ao Fisco, foi retido na alfândega do aeroporto. Na ocasião, Bento Albuquerque argumentou aos servidores da Receita que as jóias seriam para a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro.
Antes de deixar a Presidência da República, Bolsonaro incorporou ao seu acervo pessoal um segundo pacote de jóias composto por relógio, caneta, anel, abotoaduras e um masbaha. O presente também foi trazido ao Brasil pela comitiva liderada pelo ex-ministro Bento Albuquerque e não foi declarado à Receita. Após analisar o caso, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou a devolução tanto desse pacote quanto do outro avaliado, pois não poderiam ser considerados itens personalíssimos devido ao alto valor.
Reforço de segurança
A Polícia Federal preparou um forte esquema de segurança para colher o depoimento de Bolsonaro. Havia uma expectativa de que apoiadores do ex- presidente comparecessem em peso ao local, o que não aconteceu. Mesmo assim, o prédio foi isolado e cercado por mais de 100 homens da Polícia Militar do Distrito Federal, que destacou três ônibus e três viaturas da Tropa de Choque para ficar de prontidão no local.Em dezembro de 2022, o mesmo prédio foi alvo de ataques de um grupo de bolsonaristas. Inconformados com a prisão do indígena José Tsere Xavante, apoiador do ex-presidente, os manifestantes tentaram invadir a sede da PF e atearam fogo em carros e caçambas que estavam estacionados do lado de fora.
Nesta quarta-feira, não houve nenhum incidente e o efetivo policial foi desmobilizado logo depois que o político do PL deixou o prédio. Além do advogado Paulo Cunha Bueno, o ex- presidente estava acompanhado do seu ex-secretário de comunicação, Fabio Wajngarten. O ex-Secom escreveu nas suas redes sociais que a oitiva de Bolsonaro “transcorreu de maneira absolutamente tranquila”.
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Por: Informações da Folha de São Paulo
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