O caso de agressão contra o ator Victor Meyniel chamou a atenção da sociedade quanto à homofobia. O ator foi agredido, no último final de semana, por um homem identificado como Yuri de Moura Alexandre. A defesa do artista alega que ele foi vítima de homofobia.
O espancamento do ator tem repercutido nas redes sociais e gerado um debate entre internautas sobre homofobia no Brasil. Em pesquisa divulgada em junho deste ano, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos apontou que denúncias de violências contra pessoas LGBTQIA+ aumentaram mais de 300% nos primeiros cinco meses de 2023 em comparação com o mesmo período em 2022.
De acordo com o levantamento da Ouvidoria, foram mais de 2,5 mil alertas, em 2023, contra apenas 560 no ano passado. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania ainda afirmou que as denúncias resultaram em 13,8 mil registros de violações, sendo a maior parte agressões física e psíquica.
Ao Portal Manaós, o professor e ativista da causa LGBTQIA+ Gabriel Mota afirmou que o caso do ator Victor Meyniel é “resultado de uma homofobia estrutural e internalizada”, uma vez que o porteiro do prédio em que o artista foi agredido assiste ao crime sem prestar socorro à vítima.
“É estrutural também, porque, no vídeo, o porteiro negligência ajuda. E isso é retrato da sociedade machista que vivemos: agredir aquele cuja presença me incomoda (e não sendo pelas próprias mãos de quem assim pensa) é um favor, já que a pessoa não quer fazer o ‘serviço sujo’ da agressão”, disse.
Sobre a omissão de socorro, o ativista destacou que as pessoas não ajudam quando crimes como esses acontecem e o sistema também não colabora em fazer Justiça. “Até hoje, temos vários casos não resolvidos de pessoas LGBT que foram agredidas e até violentadas”, explicou.
O ativista ainda pontuou que o caso do ator acontece em meio à indicação de um ministro ao Supremo Tribunal Federal que não reconhece a homofobia como crime: Cristiano Zanin. “Isso acontece em meio à indicação do presidente Lula no ministro Zanin, que demonstrou publicamente que não reconhece a homofobia como crime equiparado à injustiça racial. É tudo reflexo e está tudo interligado. As pessoas agridem, porque sabem que a justiça é sempre mais rápida para o lado mais forte e normativo”, frisou.
No final de agosto, Zanin foi o único ministro do STF a votar contra a equiparação de homofobia e transfobia como injúria racial. O Supremo entendeu que ofensas pessoais contra a comunidade LGBTQIA+ podem ser classificadas neste tipo de crime, que tem penas previstas de 2 a 5 anos e multa.
De acordo com a defesa de Victor Meyniel, o artista foi agredido logo após questionar a orientação sexual de Yuri. Para Mota, o crime contra o ator Victor Meyniel também mostra como pessoas LGBTs repreendem a própria sexualidade.
“O que sabemos é que os dois se encontraram em uma festa e foram para um apartamento e, com a chegada de um amigo do agressor, o comportamento dele mudou. Isso expõe como existem muitas pessoas LGBTs que vivem uma situação de repressão com a própria sexualidade e só conseguem se relacionar de maneira sigilosa”, comentou.
“Seria uma escolha ser sigiloso, caso o agressor não tivesse tido essas atitudes violentas, mas o que ele fez com o Victor expôs que muitas pessoas assim acabam descontando suas repressões no outro, por isso, é um machismo e uma homofobia internalizados. A pessoa agride aquele mais frágil no intuito de provar para si mesmo que não precisa ter sua sexualidade exposta”, concluiu.
Entenda o caso
O ator Victor Meyniel, de 26 anos, foi espancado por Yuri de Moura Alexandre em um prédio, no Rio de Janeiro. Ele afirma ter conhecido o agressor em uma boate na zona sul da capital carioca e foi ao apartamento de Yuri.
Os dois teriam trocado beijos e, logo após a chegada de uma amiga, o comportamento de Yuri teria mudado. Depois de questionar sobre a orientação sexual de Yuri, Meyniel foi agredido na recepção do prédio, com a presença do porteiro, que viu todo o crime acontecer e não prestou socorro.
Yuri foi preso e vai responder por lesão corporal, falsidade ideológica e injúria por homofobia. O porteiro foi autuado por omissão de socorro.
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Por Camila Duarte
Revisão textual: Vanessa Santos
Ilustração: Marcus Reis