quinta-feira, novembro 21, 2024

Qual o segredo para ler mais?

Autor de “Crônicas de um poeta crônico” conta quais foram as melhores leituras do ano até agora e revela o seu segredo para ler mais

A leitura não deve começar pelos clássicos

Se você não tem o costume de ler, acredito que a iniciação da leitura não deve começar pelos clássicos. Uma criança que começa a ler por Machado de Assis não chegará a lugar algum — porque dificilmente irá entender o vocabulário difícil e ficará sem estímulo achando que todos os livros são difíceis —, mas uma criança que começa a ler por Harry Potter, muito provavelmente lá na frente irá desenvolver um gosto mais refinado por obras com mais sustância.

Todos nós temos um livro, só precisamos encontrá-lo. E não se force a ler um livro que não está gostando; feche e comece outro. Sem remorso. A leitura deve ser um processo prazeroso e não um martírio.

O segredo para ler mais

O início do ano é sempre repleto de muitos desafios. É quando traçamos novas metas, criamos objetivos de curto, médio e longo prazo e procuramos, na medida do caos que é a rotina, implantar novos hábitos.

A leitura sempre esteve presente em minha vida, mas, por conta do TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), como muitas outras atividades, a maioria dos livros sempre acabava ficando pela metade. Apesar disso, ao longo dos anos li uma quantidade considerável de livros —até porque, como escritor, só consigo ter ferramentas para a escrita se a minha base de leituras for sólida—, mas esse ano, em particular, li mais do que estou acostumado e já vou te explicar o porquê.

Estava rolando o feed em uma rede social quando me deparei com uma publicação do Rubel.

Ele menciona que todo ser humano que conhece tem duas coisas em comum: A insatisfação por ter nascido ser humano — e não um outro animal qualquer, como um cachorro ou uma água, que poderiam ter vidas mais despreocupadas  —  e a vontade de ler mais.

No corpo do texto, o cantor conta que viu o post de uma amiga com uma pilha gigantesca de livros dizendo que foram os livros que havia lido naquele ano. Na legenda, a amiga do Rúbel (Sim, a sílaba tônica é no “U”) contava que para ler muito o segredo estava em ler todo dia. O segredo estava no TODO DIA. 50 páginas por dia. Não importa o que acontecesse, ela dava um jeito de ler 50 páginas por dia. Fazendo as contas, isso dá 1500 páginas por mês, ou seja, cerca de 5 livros por mês e, acreditem se quiser, uns 60 livros por ano. Lendo apenas 50 páginas por dia.

Fiquei pensando tantas coisas após ler essa publicação que estabeleci como meta pessoal ler, no mínimo, 50 páginas por dia. Não se sinta intimidado, talvez começar com uma meta tão grande acabe te desestimulando. Comece lendo 10 páginas por dia. O segredo é ler um pouco. E todo dia.

As melhores leituras do ano até agora

Após o conselho da amiga do Rubel, decidi tornar a leitura um hábito diário e coloquei em prática as 50 páginas diárias.

Os frutos colhidos têm sido bons; no momento em que escrevo este artigo, estou no décimo primeiro livro lido no ano de 2024.

Vou elencar, dentre as obras lidas, as minhas três favoritas. No final do ano eu volto para fazer um balanço geral e a gente vê qual o resultado desse projeto.

O Xangô e Baker Street, de Jô Soares

Jô Soares, além de suas múltiplas facetas como apresentador, dramaturgo, humorista, artista plástico e ator, destacou-se como um habilidoso escritor. Entre suas obras notáveis, “O Xangô de Baker Street” se destaca, narrando a chegada do detetive inglês Sherlock Holmes ao Brasil. A trama envolve a investigação do desaparecimento de um violino Stradivarius e uma série de assassinatos, todos vinculados à excêntrica prática do assassino de cortar as orelhas das vítimas.

Dom Pedro II convida Holmes ao Brasil, por recomendação da famosa atriz Sarah Bernhardt, amiga pessoal do detetive. Ela estava em turnê pela América do Sul e passava pelo país na época. Com seu toque humorístico característico, Jô Soares descreve as reações intestinais de Sherlock à comida brasileira, apresenta detalhes do Rio de Janeiro na época da monarquia e revela uma cidade suja e negligenciada, onde os mais ricos usavam lenços perfumados para amenizar o odor das ruas.

“O Xangô de Baker Street” é um prato cheio para entusiastas de História e Romance Policial, proporcionando uma trama envolvente e bem elaborada, demonstrando mais uma vez a habilidade narrativa de Jô Soares.

Poirot Perde uma Cliente, de Agatha Christie

“Poirot Perde uma Cliente” destaca-se na extensa obra de Agatha Christie, ícone do suspense. A trama envolvente apresenta Hercule Poirot, famoso detetive belga, desvendando a morte de uma cliente.

A história inicia com a rica Srta. Emily solicitando os serviços de Poirot em uma carta póstuma. A morte por causas naturais desafia Poirot, que se recusa a acreditar na explicação natural. Ao investigar, aponta os sobrinhos como suspeitos, motivados pela fortuna da tia. A trama marca a despedida do Capitão Hastings, fiel escudeiro de Poirot.

Agatha demonstra maestria ao criar reviravoltas, destacando Poirot com perspicácia e o humor de Hastings, reminiscente da dinâmica Holmes-Watson. A revelação surpreendente do assassino no final é uma característica clássica da autora.

Em suma, “Poirot Perde uma Cliente” é um testemunho do talento de Agatha Christie. Com enredo inteligente, personagens memoráveis e reviravoltas, é leitura essencial para apreciadores do gênero.

As esganadas, de Jô Soares

“As Esganadas” de Jô Soares, lançado em 2011 pela Companhia das Letras, é um romance ambientado no Rio de Janeiro de 1938, na Era Vargas. Trata-se de um caso de assassinato em série contra vítimas gordas. Diferenciando-se do típico romance policial, a trama revela o assassino precocemente, focando na incerteza sobre sua captura.

Os personagens, humorísticos, contribuem para a riqueza detalhada do livro, proporcionando uma experiência única aos amantes de história. A investigação é liderada por Mello Noronha, com a colaboração do detetive Esteves Tavares, aposentado compulsoriamente de Portugal e herdeiro de uma loja de doces portugueses no Brasil.

A obra, leve e prazerosa, destaca a habilidade literária de Jô Soares, evidenciando seu domínio na construção narrativa.

Quem é Pedro?

Pedro K. Calheiros é um poeta, cronista e acadêmico de direito. Aos 23 anos, é autor de três livros, membro da Associação dos Escritores do Amazonas (Asseam), colunista no Jornal do Commercio e nos portais “Manaós” e “O Convergente”.

 

Ilustração: Marcus Reis

Leia mais: Escritor Pedro K. Calheiros toma posse como um dos imortais da Alaca

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