Ainda em outubro de 2023, poucas semanas após o ataque de integrantes do Hamas ao Sul de Israel que ocorreu no último dia 7, que vitimou cerca de 1,2 mil israelenses e iniciou o mais recente massacre em curso contra a população palestina, o ex-presidente da Fiocruz e hoje coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), Paulo Buss, dizia que se aquele novo conflito não tivesse um fim rápido, o território da Faixa de Gaza passaria a ser “de uma prisão a céu aberto, um grande cemitério”.
A afirmação foi feita em um artigo escrito com o embaixador Santiago Alcázar e o presidente da Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA), Luis Eugênio Souza, publicado no site do Centro de Estudos Estratégicos (CEE) da Fiocruz e posteriormente na seção de cartas da revista científica Lancet, em uma versão reduzida. Dito e feito. Passados 12 meses do início do que o governo israelense alega ser um direito de defesa, as trágicas previsões do professor-emérito da Fiocruz se confirmaram.
Desde então, incessantes bombardeios deixam um rastro de destruição e caos no território palestino de Gaza e um número oficial que já supera 40 mil mortos, além de outros mais de 10 mil desaparecidos, muito possivelmente soterrados por escombros. A grande maioria são civis (somente mulheres e crianças representam cerca de 65% dos palestinos assassinados). Paulo Buss reitera que a maneira como os ataques são feitos multiplica as mortes e tira daqueles que se tornam alvos qualquer possibilidade de defesa.
“Essas mais de 40 mil pessoas que perderam suas vidas foram destroçadas por bombardeios. Ou seja, não foram mortas em combate contra a força que as atacou”, ressalta. “Elas foram destruídas por mísseis, bombas de alta letalidade, e não de modo que poderiam ter alguma chance de sobreviver, como em um combate corpo a corpo”
O coordenador do Cris/Fiocruz afirma que o massacre em curso contra os palestinos tem características e consequências brutais e não deve ser relativizado. “No século 21, nunca houve no mesmo território, em uma área tão concentrada, um número tão grande de civis mortos em tão curto espaço de tempo”. Para ele, todas as mortes são lamentadas, em especial daqueles que não têm envolvimento direto com a guerra.
“Mortes de militares em um conflito é algo triste, doloroso, que todos nós, pacifistas, temos que lamentar, mas se espera. Já uma concentração dessas mortes, principalmente da população civil — incluindo crianças, mulheres e idosos — com certeza é o fato mais marcante deste século”, frisa.
Além de Paulo Buss, Radis ouviu o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), o advogado e filho de palestinos vindos da Cisjordânia, Ualid Rabah, para quem o atual ataque a Gaza é uma propagação do que já ocorre naquele território pelo menos desde a implantação do Estado de Israel, em 1948. “Isso sem falar dos 25 anos anteriores, de presença colonial britânica para impor um projeto sionista sobre a Palestina”, acrescenta, ao mencionar a participação inglesa na partilha de terras palestinas aos judeus ao longo do século 20, processo esse intensificado após a Segunda Guerra Mundial.
Com informações da Fiocruz*
Foto: Reprodução
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