Aumento de hospitalizações e da mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias. Propagação de doenças vetoriais. Insegurança alimentar e desnutrição. Questões de saúde mental. Esses são alguns dos impactos da emergência climática à saúde que já podem ser observados, segundo apontamento da pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) Sandra Hacon.
Há uma série de sinais e sintomas associados ao estresse térmico, que ocorre em razão do aumento das temperaturas, como durante ondas de calor: tonteira, sensação de desmaio, enjoo, dor de cabeça.
“Já estamos vivenciando uma emergência climática. As previsões já indicam aumento das ondas de calor, estresse térmico, e a alta da temperatura. Já estamos vivenciando todas essas alterações. É urgente que o setor saúde se estruture para capacitar seus profissionais e crie condições de logística e infraestrutura que atendam ao ‘novo normal’, evitando o aumento do adoecimento, internações e óbitos em decorrência do aumento de temperatura”, explica a especialista.
Hacon destaca ainda que os impactos atingem as populações em intensidades diferentes. Ao considerar a complexidade da estrutura social brasileira, com marcada peça desigualdade social, a pesquisadora afirma que há “uma variedade de impactos negativos para a saúde pública, de diferentes magnitudes para as populações expostas”. Segundo ela, comunidades de baixa renda, crianças, idosos e gestantes são os grupos mais vulneráveis.
Conforme a especialista, as implicações da emergência climática para a saúde da população são uma ameaça significativa. A estrutura social da população brasileira é extremamente complexa, com elevado grau de desigualdade social. Isso implica numa variedade de impactos negativos para a saúde pública, de diferentes magnitudes para as populações expostas, com diferentes prioridades ao nível institucional para a saúde da população brasileira.
Os impactos da emergência climática sobre a saúde humana ocorrem com diferentes severidades dependendo do grau de vulnerabilidade das comunidades expostas.
Os riscos sobre a saúde referente ao estresse térmico (termo técnico para definir o impacto do aumento das temperaturas no corpo humano), dependem das condições de exposição (contínua ou intermitente), duração e frequência, condições pretéritas de saúde, condições ambientais, condições sociais (local de moradia, renda, escolaridade, acesso a serviços de saúde) e fatores genéticos.
Geralmente, os grupos mais vulneráveis são os mais atingidos, ou seja, os que mais sofrem, como as comunidades de baixa renda e as crianças, devido ao equilíbrio homeostásico ainda em desenvolvimento. Bem como os idosos, porque muitas vezes já apresentam dificuldades em manter seu equilíbrio homeostásico, desidratando com maior facilidade. O mesmo ocorre com as gestantes que precisam manter a pressão arterial e o consumo de líquidos em equilíbrio, e muitas vezes, isso não é possível, afirma Hacon.
Alguns dos impactos de estresse térmico são: desequilíbrio homeostático no organismo, com sinais e sintomas como tonteira, sensação de desmaio, enjoo, dor de cabeça e aumento de hospitalizações e da mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias. Pacientes em hemodiálise, por exemplo, devem controlar a pressão arterial e manter o corpo hidratado. Esse grupo é de elevado risco num cenário de estresse térmico.
“As previsões já indicam aumento das ondas de calor, estresse térmico, e a alta da temperatura. Já estamos vivenciando todas essas alterações. É urgente que o setor saúde se estruture para capacitar seus profissionais e crie condições de logística e infraestrutura que atendam ao “novo normal”, evitando o aumento do adoecimento, internações e óbitos em decorrência do aumento de temperatura”, completa.
A especialista conclui que os principais desafios estão relacionados com a mitigação e a adaptação com abrangência para os 5.570 municípios brasileiros, com diferentes estágios de infraestrutura e logística, limitada capacitação em uma área relativamente nova (impactos das ondas de calor e do estresse térmico), falta de saneamento em 50% dos municípios, e, comunidades tradicionais em áreas remotas. Outros desafios referem-se a frequência de tempestades intensas, com ameaça à saúde da população por meio de mudanças adversas, além do aumento da poluição do ar, da propagação de doenças vetoriais, como a dengue que atingiu a 6 milhões de casos no Brasil. A insegurança alimentar e a desnutrição, além das questões de saúde metal, já são problemas associados à emergência climática.
Com informações da Fiocruz*
Ilustração: Arquivo Portal Manaós
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