Um áudio com de incitação à violência contra indígenas antecedeu o ataque sofrido por manifestantes durante a marcha “A Resposta Somos Nós”, em Brasília, nessa quinta-feira, 10. A denúncia foi feita pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que aponta a conivência e a responsabilidade de autoridades do Distrito Federal pelo episódio.
A ameaça teria sido feita durante uma reunião online com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), realizada na véspera da marcha, no dia 9 de abril, segundo a Apib. O encontro deveria servir apenas para definir o trajeto do protesto indígena, mas, de acordo com o áudio, uma pessoa não identificada afirmou que a secretaria deveria deixar os indígenas marcharem até a Praça dos Três Poderes e, então, “meter o cacete”.
“Deixa o pessoal descer logo. Deixa descer e meter o cacete se fizer bagunça, pronto”, diz o homem, em trecho do áudio.
Por meio de nota, a Apib repudiou a incitação à violência e disse que tomará todas as medidas cabíveis contra o episódio. “A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) repudia todo o ato de racismo e incitação de violência contra os povos indígenas. A organização indígena solicitou a gravação do momento e tomará todas as medidas cabíveis”, declarou a articulação, em nota.
Ataque violento
Os atos de violência ocorreram na noite desta quinta-feira, 10, em frente ao Congresso Nacional. Segundo lideranças indígenas, a polícia jogou bombas de gás de efeito moral contra manifestantes que participavam da marcha “A Resposta Somos Nós”, que faz parte da programação do Acampamento Terra Livre (ATL).
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De acordo com a Apib, a deputada indígena Célia Xakriabá (PSOL) e várias pessoas ficaram feridas ao serem recebidas com bombas de gás de pimenta e efeito moral.
“Lamentamos o uso desnecessário de substâncias químicas contra os manifestantes, mulheres, idosos, crianças e lideranças tradicionais”, lamentou a Apib.
Por meio das redes sociais, a deputada afirmou que, mesmo após se identificar como deputada, foi impedida de deixar o local da manifestação pelas forças de segurança e precisou de atendimento médico na Câmara dos Deputados.
“Esse episódio escancara o que temos denunciado há muito tempo: a violência do Estado contra os povos originários e o racismo institucional que marca as estruturas de poder deste país. Também é violência política de gênero, num país em que ser mulher indígena no parlamento é resistir diariamente ao apagamento”, declarou Célia Xakriabá.
Nota
Em nota ao O Convergente, a Câmara dos Deputados disse que as Polícias Legislativas Federais da Câmara e do Senado Federal usaram agentes químicos após após cerca de mil indígenas que participavam da marcha do Acampamento Terra Livre romperam a linha de defesa da Polícia Militar do Distrito Federal, derrubaram os gradis e invadiram o gramado do Congresso Nacional.
Confira a nota na íntegra:
“Cerca de mil indígenas que participavam da marcha do Acampamento Terra Livre romperam a linha de defesa da Polícia Militar do Distrito Federal, derrubaram os gradis e invadiram o gramado do Congresso Nacional. As Polícias Legislativas Federais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal usaram agentes químicos para conter a invasão e impedir a entrada no Palácio do Congresso.
Revisão Jurídica: Letícia Barbosa