quarta-feira, abril 16, 2025
HomeColunistasErica Lima - PolíticaAlerta Respiratório: Pneumonia Infantil avança no Amazonas em meio a chuvas, poluição...

Alerta Respiratório: Pneumonia Infantil avança no Amazonas em meio a chuvas, poluição e falhas na Atenção Básica

Por Érica Barbosa | Manaós

A pneumonia continua entre as principais causas de internação e morte de crianças no Amazonas. Só em 2024, mais de 4 mil casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) foram registrados no estado, grande parte deles relacionados a vírus respiratórios que evoluem para quadros graves como a pneumonia. As chuvas intensas, a umidade constante e o aumento da poluição atmosférica nos centros urbanos e comunidades ribeirinhas agravaram ainda mais a situação neste primeiro semestre de 2025.

Números que preocupam

De acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-RCP), entre janeiro de 2024 e janeiro de 2025, o estado registrou 4.413 casos de SRAG, sendo 1.796 confirmados por vírus respiratórios. Desse total, 85 crianças vieram a óbito.

Somente nas sete primeiras semanas de 2025, já foram contabilizados 483 casos de SRAG, com 169 por vírus respiratórios e 7 mortes – um número menor em relação ao mesmo período do ano anterior, mas que ainda inspira cuidados, principalmente entre crianças de 0 a 4 anos, grupo que representa mais de 33% dos casos registrados.

O papel das chuvas e da poluição

O período de chuvas intensas no Amazonas, que vai de janeiro a junho, coincide com o pico de doenças respiratórias. A umidade elevada e a ventilação deficiente em casas precárias criam condições ideais para a propagação de vírus e bactérias.

Além disso, estudos da Fiocruz Amazônia apontam que a poluição atmosférica causada por queimadas urbanas e resíduos também afeta diretamente a saúde respiratória infantil. Mesmo durante o inverno amazônico, a queima de lixo e a poluição veicular em bairros periféricos de Manaus continuam sendo fontes de emissão de partículas finas, altamente nocivas aos pulmões em desenvolvimento das crianças.

Em áreas como os bairros Jorge Teixeira, São José, Redenção e Compensa, a combinação de alagamentos, esgoto a céu aberto e moradias improvisadas contribui para o agravamento dos casos de infecções respiratórias, como indicam relatos de unidades básicas de saúde.

Como identificar e agir rapidamente

O diagnóstico precoce é fundamental. Segundo o Ministério da Saúde, os principais sinais de alerta da pneumonia em crianças são:

• Febre alta (acima de 38,5°C);
• Tosse intensa;
• Dificuldade para respirar ou respiração acelerada;
• Chiado ou roncos no peito;
• Lábios ou extremidades arroxeadas (em casos graves).
Em casos suspeitos, é essencial procurar atendimento médico imediatamente. Muitas mortes por pneumonia ocorrem por atraso no diagnóstico e falta de acesso a serviços especializados, especialmente no interior do estado.

Prevenção começa em casa – e na Atenção Básica

A Fiocruz recomenda quatro estratégias fundamentais para prevenção da pneumonia infantil:

1. Vacinação: manter em dia o calendário vacinal, incluindo as vacinas contra pneumococo, influenza e coqueluche;
2. Aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, que fortalece o sistema imunológico da criança;
3. Ambiente livre de fumaça e mofo, com boa ventilação;
4. Higiene frequente das mãos e superfícies de contato das crianças.
No entanto, os especialistas ressaltam que não é suficiente responsabilizar apenas as famílias. É preciso garantir saneamento básico, coleta regular de lixo, transporte de emergência e infraestrutura adequada nas unidades de saúde.

Conclusão: um problema ambiental e social

A pneumonia infantil no Amazonas não é apenas um problema de saúde. É o resultado de vulnerabilidades estruturais, desigualdade social e falhas na gestão ambiental. Os dados revelam que o ciclo de chuvas, a poluição invisível e o descaso com as periferias estão matando crianças que poderiam ser salvas com políticas públicas integradas e preventivas.

A proteção à infância deve começar pelo básico: água limpa, ar puro, vacina no posto e dignidade nas moradias. No Amazonas, isso ainda parece ser um privilégio, quando deveria ser um direito.

Leia mais: Brasil e China reforçam laços em ciência e comércio: parceria estratégica impacta saúde pública e economia agrícola

Érica Barbosa
Érica Barbosa
Assistente social, Prof.a mestra em saúde, empresária e pesquisadora
- Continua após a publicidade -spot_img
spot_img
Últimas notícias
- Continua após a publicidade -
Mais como esta

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here