Uma Amazônia com campos avançando sobre a floresta, alta mortalidade de árvores, secas intensas, chuvas extremas, incêndios florestais mais frequentes, perda de biodiversidade e emissão de gás carbônico maior do que a capacidade de absorção.
Tudo isso já está ocorrendo, mas tende a se acelerar ainda mais caso as mudanças climáticas globais e o avanço do desmatamento, ambos resultados da ação humana, não sejam contidos, adverte o segundo volume do sexto relatório do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU, divulgado nesta segunda-feira, 28.
A Amazônia ocupa um lugar de destaque no estudo, realizado por 270 cientistas de todo o mundo. Para analisar a situação da maior floresta tropical do mundo, o IPCC se baseou em dezenas de artigos acadêmicos sobre a crise climática na região tanto para descrever impactos já verificados quanto para projetar cenários climáticos.
No geral, o IPCC aponta uma combinação explosiva entre as mudanças climáticas globais, provocadas pela emissão de gases de efeito estufa, e os efeitos provocados pela expansão agropecuária e a abertura de estradas, que provocam a fragmentação e a degradação da floresta no entorno.
Em poucas semanas, o estado perdeu até 14 mil km2, ou 9% de sua cobertura vegetal. Esses incêndios se tornaram mais frequentes no passado recente e tendem a continuar aumentando, mas o desmatamento fomentado pela agropecuária continua sendo a principal causa de mortalidade de árvores. Entre 1988 e 2020, a cobertura florestal reduziu, em média, 13.900 km2 ao ano na Amazônia brasileira, de acordo com o relatório.
A consequência é que, de 2003 a 2008, a Amazônia como um todo passou de “sumidouro” a emissora de gás carbônico, um dos gases do efeito estufa. Em quatro lugares específicos, a Amazônia também apresentou emissões de carbono entre 2010 e 2018, em razão de desmatamento e de incêndios.
O relatório adverte de que o aumento do fogo, do desmatamento e das secas pode levar à conversão de até metade da floresta amazônica em campo, “um ponto de virada que pode liberar uma quantidade de carbono que aumentaria substancialmente as emissões globais”.
Para pesquisadora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) Flávia Costa, a possível pavimentação da BR-319, entre Manaus a Rondônia, obra impulsionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), traz o risco de levar a degradação e a fragmentação florestal a um dos lugares mais intactos da Amazônia. “Isso é um grande perigo para a manutenção do potencial de absorção de carbono”, afirma.
Por outro lado, Costa afirma que os efeitos das mudanças climáticas são bastante heterogêneos sobre a Amazônia, uma região bastante variada em ambientes. Segundo ela, há outros aspectos que precisam de mais estudos, como a função dos lençóis freáticos na captura de carbono, presentes em 50% de toda a região.
- Fonte: Agencia Cenarium
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