terça-feira, dezembro 3, 2024

Conspiração militar na Bolívia: Tanques, golpe e resistência

A ação, que acabou sendo frustrada, foi comandada pelo ex-general do Exército boliviano Juan José Zúñiga, destituído do comando da força militar na última terça-feira (25)

A Bolívia viveu um dia tenso após uma tentativa de golpe de Estado nesta quarta-feira (26), quando tanques do Exército e soldados armados ocuparam o Palácio Quemado, em La Paz, antiga sede do governo utilizada ainda para cerimônias protocolares.

A ação, que acabou sendo frustrada, foi comandada pelo ex-general do Exército boliviano Juan José Zúñiga, destituído do comando da força militar na última terça-feira (25) após ameaçar o ex-presidente Evo Morales, declarando que o prenderia caso retornasse ao poder.

“Os três chefes das Forças Armadas viemos expressar nossa discordância. Vai haver um novo gabinete de ministros, com certeza as coisas vão mudar, mas nosso país não pode continuar desse jeito”, declarou Zúñiga.

Zúñiga foi preso após a tentativa de golpe, ao ser conduzido pelos policiais. O militar acusou Arce de orquestrar o ato para promover um autogolpe e aumentar sua popularidade na nação.

O presidente boliviano, Luis Arce, denunciou a tentativa de golpe. Imediatamente, recebeu o apoio de líderes de diversos países da região que condenaram a insurreição militar.

Logo após o início da revolta, Arce usou o X (antigo Twitter) para pedir respeito à democracia no país e exigindo a desmobilização das tropas. “Hoje, mais uma vez, o país enfrenta interesses que querem acabar com a democracia na Bolívia. Eu convoco o povo boliviano a se organizar e se mobilizar contra o golpe de Estado e a favor da democracia.”

Segundo o cientista político Helso Ribeiro, no subcontinente sul-americano, a democracia nunca foi forte, e a Bolívia que sofreu a tentativa de golpe é um dos países com mais instabilidade democrática.

“A democracia boliviana sempre sofreu com ditaduras, uma prática constante no país. Mais uma vez, um general do Exército tenta utilizar o poder para cercear a vontade da população”, avalia o analista.

Arce foi ministro da Economia durante o governo de Morales e candidato à Presidência pelo mesmo partido de seu mentor político nas eleições de 2020. No entanto, nos últimos anos, os dois se afastaram.

Embora atualmente sejam rivais, Arce defendeu Morales. Anteriormente, os dois foram aliados por muitos anos, mas romperam no ano passado, quando Morales anunciou sua intenção de concorrer novamente à presidência nas eleições de 2025.

“As pessoas podem amar ou odiar o Evo Morales, mas cabe à população boliviana escolher quem ela quer para o governo, independentemente da vontade unilateral ou pessoal de um general. A intolerância de uma pequena parcela do Exército que causou essa tentativa de golpe é incompatível com a democracia”, descreveu o cientista político.

No momento, Morales está contestando uma decisão judicial que o impede de se candidatar novamente, argumentando que um cidadão não pode ocupar um cargo público mais de duas vezes.

O Ministério Público da Bolívia anunciou que vai abrir um inquérito criminal contra o general e outros envolvidos na tentativa de golpe.

Posição do Governo brasileiro

Lula tem viagem marcada para o dia 9 de julho para Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Devido à situação delicada, o governo brasileiro solicitou ao ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, informações sobre a situação do país.

Em nota oficial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) condenou veementemente a tentativa de golpe de estado em andamento na Bolívia, que inclui a mobilização irregular de tropas do Exército. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, essa ação representa uma clara ameaça ao Estado democrático de Direito no país.

“O Governo brasileiro manifesta seu apoio e solidariedade ao presidente Luis Arce e ao governo e povo bolivianos. Nesse contexto, estará em interlocução permanente com as autoridades legítimas bolivianas e com os governos dos demais países da América do Sul no sentido de rechaçar essa grave violação da ordem constitucional na Bolívia e reafirmar seu compromisso com a plena vigência da democracia na região”, diz a nota.

Segundo o Itamaraty, esses fatos são incompatíveis com os compromissos da Bolívia perante o Mercosul, sob a égide do Protocolo de Ushuaia. Lula defende a democracia na região. “Como eu sou um amante da democracia, eu quero que a democracia prevaleça na América Latina. Golpe nunca deu certo”, afirmou o petista.

“É interessante o Brasil ter laços de cooperação e acordos bilaterais. As duas nações deveriam estreitar laços sempre. Mas espera-se que essa tentativa de golpe seja reprimida. Caso permaneça, pode inviabilizar o compromisso do presidente Lula na Bolívia”, concluiu Helso Ribeiro.

*Fonte: O Convergente

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