segunda-feira, novembro 25, 2024

Dia Mundial da Psoríase: abordando a doença em crianças

Estima-se que 3% da população mundial, isto é, 125 milhões de pessoas em todo o mundo, sofrem com os sintomas da psoríase, sendo 5 milhões apenas no Brasil

A psoríase é uma condição de pele que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e embora seja mais comum em adultos, também pode ocorrer em crianças. No contexto do Dia Mundial da Psoríase (29/10), a dermatologista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Elisa Fontenelle, compartilha informações sobre como a psoríase pediátrica se manifesta e como é possível tratá-la. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), estima-se que 3% da população mundial, isto é, 125 milhões de pessoas em todo o mundo, sofrem com os sintomas da psoríase, sendo 5 milhões apenas no Brasil.

O que é a psoríase? 
E.F.: A psoríase é uma doença crônica dermatológica relativamente comum, cuja frequência aumenta até a vida adulta, embora seja muito raro estar presente ao nascimento. São fatores genéticos, ambientais e/ou emocionais que causam o surgimento das alterações imunológicas que levam à aparição de lesões avermelhadas que descamam e inflamam a pele.

A psoríase é contagiosa?
E.F.: A psoríase não é contagiosa e o paciente também não a espalha pelo corpo através da coceira. Essa condição pode ser herdada, sendo mais encontrada na infância quando existem casos familiares.

É possível evitar o surgimento da psoríase?
E.F.: Não.

Como a psoríase se manifesta em crianças, quais são os sintomas mais comuns que os pais devem conhecer?
E.F.: A psoríase pode se manifestar de diferentes formas na pele das crianças, as mais comuns são as áreas com lesões avermelhadas e descamativas. Os locais mais acometidos costumam ser o couro cabeludo, os cotovelos e os joelhos, embora possa ocorrer em qualquer local do corpo. Por outro lado, pode não apresentar sintomas ou, por vezes, causar sensação de coceira. Sendo a psoríase uma doença crônica e recorrente, os sintomas desaparecem e reaparecem periodicamente.

O comprometimento das articulações pode acontecer e constitui o que denominamos de psoríase artropática, que cursa com dor, calor e inchaço dessas áreas, e inclusive pode até gerar deformidades se não tratada.

O estresse e a ansiedade têm conexão com a doença? 
E.F.: Infelizmente muitas pessoas não têm informações sobre a psoríase, achando por desconhecimento que pode ser contagiosa, o que faz com que evitem contato com pacientes com essa condição, o que pode ser percebido até em crianças. Isso acarreta um impacto emocional significativo para quem tem a doença, causando tristeza, vergonha, desconforto, medo, estresse, ansiedade e/ou depressão devido a aparência da pele, o que por extensão afeta e agrava a aparição de lesões. Nesse sentido, quanto maior a ansiedade e o estresse, maior o impacto na pele das pessoas com a doença.

Por isso, é recomendável o acompanhamento psicológico de crianças com psoríase para ensiná-las desde pequenas a lidar com o estresse e a ansiedade que podem causar a doença, para assim diminuir os sentimentos de estigmatização e fortalecer a autoestima até a vida adulta.

Quais são as opções de tratamento mais seguras e eficazes para crianças que têm psoríase?
E.F.: Os tratamentos são escolhidos caso a caso, a depender da idade do paciente, do tipo de lesão cutânea, se existe comprometimento articular, da extensão das lesões, suas localizações, e da coexistência com outras doenças.

Nos casos leves podem ser apenas tratamentos tópicos (aplicados diretamente na pele, como cremes e pomadas), mas pode ser necessário o emprego de imunossupressores ou de imunobiológicos nos casos graves. É possível também acompanhar o tratamento com terapia fotodinâmica não farmacológica, que inclui o uso de lasers.

A psoríase em crianças pode afetar a qualidade de vida delas, inclusive em suas atividades diárias?
E.F.: A psoríase pode afetar a qualidade de vida em qualquer idade, inclusive na infância. O impacto também é levado em consideração ao se indicar um tratamento.

Existem medidas de prevenção ou estilo de vida que possam ser recomendadas para aliviar sintomas da doença?
E.F.: Alguns estudos apontam que os pacientes com psoríase são mais predispostos à obesidade, hipertensão arterial, alterações nos lipídeos do sangue (biomoléculas orgânicas tipo gorduras, que são compostas por carbono, oxigênio e hidrogênio) e na glicemia. Assim, um estilo de vida mais saudável sempre é indicado. Exposição solar moderada também pode ajudar alguns pacientes, com uso sempre de protetor solar.

Existem diferentes tipos de psoríase? 
E.F.: Existem diferentes tipos de psoríase. A mais comum é o “em placas”, que são as lesões avermelhadas, bem delimitadas e que têm descamação sobrejacente.

O que é a psoríase pustulosa e quais são os principais sintomas e características que a diferenciam da psoríase comum?
E.F.: A psoríase pustulosa é um subtipo de psoríase mais inflamatório e mais raro também. Nela podem ser notadas lesões contendo pus, não tendo nenhum agente infeccioso, ocorrendo simplesmente em decorrência da inflamação local. Nos pacientes com muitas lesões desse tipo pode haver outros sintomas, como febre, inchaço e fadiga, que podem se assemelhar a quadros infecciosos graves precisando de internação hospitalar para tratamento adequado.

Quais são os desafios de tratar a psoríase pustulosa em crianças, considerando as necessidades e sensibilidades dessa faixa etária?
E.F.: Essa forma de psoríase costuma ser mais grave do que a psoríase em placas, então geralmente são necessários medicamentos sistêmicos (seja por via oral ou injetável). São medicamentos que precisam de um acompanhamento com exames laboratoriais para que o especialista possa evitar a ocorrência de efeitos colaterais. Nesse sentido, o desafio está em ponderar as opções de tratamento disponíveis indicadas para a faixa etária pediátrica, que é muito mais restrita do que para os adultos, pois é necessário tratar a doença e diminuir o processo inflamatório, mas com a máxima segurança possível.

Qual é o papel da dermatologia na gestão e tratamento da psoríase?
E.F.: A dermatologia é fundamental para o diagnóstico e a condução dos pacientes com psoríase. Muitas vezes é necessário o manejo de tratamentos tópicos variados adicionais aos tratamentos sistêmicos. Ultimamente têm surgido medicamentos mais dirigidos aos excessos encontrados na doença com maior eficácia de resposta e menos efeitos colaterais. Eles são medicamentos imunobiológicos, como os anti-TNF (tipo de medicação biológica que bloqueia especificamente uma substância chamada Fator de Necrose Tumoral: TNF – em inglês, que é responsável pelo desencadeamento de inflamações de diversas doenças reumatológicas, inclusive as autoimunes); entre eles se encontra o Etanercepte, que é um dos anti-TNF liberados para criança, além de outros remédios como os anti-interleucinas (tipo de medicação com efeito imunossupressor que servem para controlar reações imunológicas e inflamatórias): Ustequinumabe, Secukinumab e Ixequizumabe, por exemplo.

A psoríase em crianças é uma realidade que exige atenção especial. Como evidenciado pela dermatologista do IFF/Fiocruz, Elisa Fontenelle, a detecção precoce, o tratamento personalizado e o acompanhamento psicológico desempenham um papel essencial no cuidado dessa condição. Além disso, um estilo de vida saudável contribui com a autoestima, elementos importantes para uma qualidade de vida melhor. À medida que se avança nas pesquisas e terapias, há esperança de que crianças com psoríase possam viver com mais conforto e confiança no futuro.


  • Fonte: Agência Fiocruz
  • Foto: Divulgação

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